Entre investigações e vulnerabilidades: riscos e regulação do hacking governamental no Brasil



Parte I – Sobre proponente e co-proponente

Proponente

Nome:

IP.rec - Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife

Estado:

Pernambuco

Região:

Nordeste

Setor:

Comunidade Científica e Tecnológica

Parte II - Sobre o Workshop

Resumo do workshop

Será conduzido debate multissetorial sobre ferramentas associadas ao trabalho forense em investigações criminais e atividades de vigilância, especialmente a exploração de vulnerabilidades e extração massiva de dados de dispositivos pessoais por autoridades governamentais. A partir de diferentes perspectivas sobre a governança da segurança do ecossistema tecnológico, da segurança pública e dos direitos dos usuários, pretende-se avançar sobre avaliações de risco e perspectivas regulatórias.

Objetivos e conteúdos do workshop

O workshop pretende amadurecer discussão no Brasil, ainda incipiente, sobre a regulação legal e administrativa acerca da contratação e uso efetivo de ferramentas associadas ao “hacking governamental”, aqui incluídas tecnologias de extração massiva de dados de dispositivos apreendidos, bem como a vigilância remota mediante spywares. Para tal, irá catalisar um “mosaico multissetorial” sobre o tema, uma vez que agentes econômicos de fabricação e fornecimento da tecnologia, associados às demandas de agências investigativas, como a Polícia Federal e o MPF, pulverizam essas soluções no aparato técnico policial no Brasil. A problemática escala também para um cenário de insegurança cibernética provocada por um “mercado de vulnerabilidades” incentivado globalmente, pondo em risco não somente a resiliência de sistemas de informação nacionais, como direitos fundamentais de usuários, como a proteção de dados pessoais, a liberdade de expressão ou a presunção de inocência. Nesse sentido, marcaram os debates em direitos humanos de 2021 revelações da ONG Forbidden Stories sobre a utilização do Pegasus em mais de cinquenta países, atingindo mais de mil jornalistas, ativistas e políticos - spyware que chegou a ser negociado em mais de uma oportunidade no Brasil. Adicionalmente, é seguro dizer que ferramentas como as da Cellebrite fazem parte das técnicas disponíveis em departamentos de investigação de todos os Estados brasileiros, garantindo superações à criptografia forte e acesso irrestrito a dados armazenados. Por fim, o avanço dessas técnicas de investigação se opõem, fundamentalmente, à cibersegurança. Sem bases legais no Código de Processo Penal e no regime brasileiro de proteção de dados pessoais, abre-se margem a riscos de uso arbitrário e politicamente motivados. O debate, portanto, propõe explorar o contexto sociopolítico e tecnológico em que se inserem e, assim, apontar caminhos e possibilidades regulatórias

Relevância do tema para a Governança da Internet

O objeto de discussão se amplia a, pelo menos, duas dimensões geopolíticas: o mercado internacional de ferramentas forenses e de vigilância que encontra representações em diversas localidades e jurisdições, tendo por consumidores organizações governamentais variadas, democráticas e autoritárias; e os desafios dessas operações em responderem a padrões internacionais de direitos humanos, incluindo a proteção à privacidade, à segurança e ao devido processo legal. Não coincidentemente, são fatores que se confundem com questões críticas e transversais à governança global da Internet, como a confiança e a resiliência transfronteiriças ao ecossistema conectado. Ao passo que o avanço de protocolos de segurança, como a criptografia forte, desenvolvem-se a partir da comunidade tecnológica e são efetivamente implementados por padrão pelo mercado de fabricação de aplicações e dispositivos globalmente, um movimento de contramão é identificado por um nicho que fomenta a exploração de vulnerabilidades nesses mesmos sistemas. Esse fenômeno se insere em um contexto de amplo debate sobre riscos sobre a vigilância operada por setores governamentais, muitas vezes à revelia de ordens judiciais, justificativa ou mesmo da identificação dos agentes. A própria existência de spywares e ferramentas de extração massiva de dados de dispositivos pessoais facilita sua inserção em mercados clandestinos, gerando um cenário de insegurança distribuída e operado por atores maliciosos, sobretudo em países cuja regulação sobre a contratação e uso de ferramentas de hacking seja insuficiente, como no Brasil. O debate é emergente e atual, colocando-se como ponto chave para uma discussão multissetorial com alguns dos principais atores da área em atividade no Brasil. A dinâmica sobre a fabricação, contratação e uso dessas ferramentas, portanto, é parte das agendas de cibersegurança e proteção de dados transversais à governança global da Internet, tendo como ênfase, para o debate, o papel do Brasil.

Forma de adequação da metodologia proposta

A proposta do workshop é de mesa redonda, facilitando a troca entre os participantes. O moderador terá 5 minutos iniciais para apresentação da proposta da mesa, contextualização do tema, apresentação dos(as) painelistas e instruções ao público. Contaremos com uma pergunta norteadora específica para cada stakeholder e 10 minutos para cada apresentação. Em seguida, teremos uma rodada de troca de comentários do(as) painelistas sobre as demais apresentações, contando com 5 minutos para cada, onde a moderação, se necessário, poderá facilitar o diálogo fazendo provocações. O formato facilitará a troca franca de impressões. Em seguida, a moderação fará uma primeira rodada de interações com o público, abrindo o microfone no local e coletando comentários da transmissão online. Cada painelista terá 2 minutos para respostas. Caso houver tempo, a moderação irá coletar mais um comentário no local e um dos espectadores online, abrindo nova rodada de respostas.

Engajamento da audiência presencial e remota

A organização proponente irá mobilizar equipe de comunicação para fazer cobertura da sessão em tempo real nas redes sociais. Assim fazendo, também irá constantemente convocar o público remoto para interagir tanto na transmissão online como através de posts com hashtags do FIB 12 e das criadas especificamente para a sessão. Ao longo da sessão, a equipe irá lançar enquetes online, como auxílio da moderação e da relatoria, tematizando pontos em disputa para engajamento da audiência. O resultado das enquetes também irá constar no relatório final. Paralelamente, a moderação irá convocar o público presencial para, além da intervenção na última parte da sessão, deixar comentários na transmissão online, listando impressões que poderão ser lidas pela moderação entre as falas dos(as) painelistas. Durante a sessão, a moderação irá reforçar a possibilidade de interação do público remoto junto à transmissão online. Ao fim, será instigado o espaço para perguntas da audiência presencial e remota.

Resultados pretendidos

Iniciaremos um diálogo entre diferentes stakeholders sobre o estado do uso de ferramentas de hacking operadas por forças de investigação. A partir de um retrato inicial, avançaremos sobre possíveis potencialidades à segurança pública, bem como sobre os riscos à segurança e aos direitos derivados de usos que operam à revelia de garantias que assegurem a proporcionalidade, a necessidade e legalidade dessas medidas. Espera-se, com isso, oferecer insumos à políticas públicas que estão na pauta do dia do legislativo brasileiro, a exemplo da Reforma do Código de Processo Penal e da LGPD Penal, assim como avançar com possíveis reformas administrativas que deverão ser observadas por forças policiais na adoção dessas ferramentas. O debate será referência tanto a fabricantes e fornecedores, em termos de segurança jurídica, às forças de segurança pública, no que se refere à efetividade de investigações, quanto à sociedade civil, no advocacy pela salvaguarda de direitos humanos no Brasil.

Relação com os príncipios do Decálogo

Ambiente legal e regulatório

Temas do workshop

ISCI – Direitos humanos | PRIS – Cibersegurança e boas práticas | QJUR – Questões legais e regulatórias |

Aspectos de diversidade relevante

Gênero | Cor ou raça | Região |

Como a proposta integrará os aspectos de diversidade

A proposta do workshop conta com uma composição multissetorial de painelistas e de atores em plena atividade no tema, incluindo representações de pesquisa, da sociedade civil, representação comercial de um dos principais fornecedores do mercado e, por fim, do corpo de perícia forense da Polícia Federal. Além disso, duas das representações têm escopo de atuação nacional e duas com escopo de atuação internacional. Conta com equidade de gênero de painelistas, representação de uma pessoa negra e uma diversidade de três regiões do Brasil: Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Além disso, sendo proposto o debate por uma organização sediada no Nordeste, contribui para a descentralização e representatividade política e regional dos debates em torno da governança da Internet no Brasil.
Ir para o topo